sábado, 30 de outubro de 2010

AS DROGAS E A PSICANÁLISE SEGUNDO FREUD
Julio César Xavier Langa. [1]
Polo Itapemirim.
1- Introdução; 2- Freud e a sociedade; 3- As frustrações e o uso indiscriminado das drogas;4- Considerações Finais; 5- Bibliográficas.Das drogas:

RESUMO
A psicanálise segundo Sigmund Freud explica muitos conflitos relacionados ao homem moderno. Em seu estudo intitulado “A modernidade bloqueada” o autor apresenta a complexidade e a necessidade do papel do pai como referência, contudo, quando essa figura não existe ou não é representado poderá causar conflitos. Com esse contexto discutiremos um problema que atinge toda a sociedade moderna, as drogas.
Palavras chave: psicanálise – Sigmund Freud – drogas
ABSTRACT
Psychoanalysis second Sigmund Freud explains many conflicts related to modern man. In his study entitled "Modernity blocked" the author presents the complexity and necessity of the father's role as a reference, however, when that person does not exist or is not represented may cause conflicts. In this context we discuss a problem that affects the entire modern society, drugs.
Keywords: psychoanalysis - Sigmund Freud - drugs
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1- Introdução:
Partamos das seguintes questões: o que leva um jovem a usar drogas? Como a psicanálise ajudaria a sociedade atual com essa questão? O que diz Freud a respeito da modernidade bloqueada e as frustrações referentes à formação humana? O que leva os jovens cada vez mais ao uso indiscriminado das drogas?
A seguir, esse estudo irá debater essas questões, baseando-se nas teorias apresentadas e estudadas por Freud, diga-se de passagem, que o mesmo também era usuário de cocaína, e em algumas biografias ele defende seu uso.
Entretanto, na sociedade atual, o uso das drogas, tem levado a sociedade moderna a uma luta constante para que seu uso diminua, mas contraria a ações a cada dia surgem novas drogas e com elas novos usuários.
2 – FREUD E A SOCIEDADE[2]
As teorias de Freud procuraram estudar todos os caminhos que levam o homem a viver em sociedade, suas crenças, culturas, medos e frustrações. Freud afirma que: “mesmo a sociologia, que trata do comportamento dos homens em sociedade, não pode ser nada mais que psicologia aplicada. Em última instância só há duas ciências, a psicologia pura aplicada e a ciência pura da natureza.”.
Contudo, observa-se que a psicologia é a mola mestra para um indivíduo viver em sociedade, pois mediante suas condutas, neuroses e frustrações sua convivência em sociedade torna-se abalada e às vezes exclusa vivendo às margens. Em estudos desenvolvidos por Freud, essas questões se tornam importantes na estruturação do homem contemporânea, observando que muitos não sabem conviver com o fracasso, vindo à tona a frustração e com ela a neurose.
Para Freud: “um ser humano se torna neurótico por não poder suportar a frustração imposta pela sociedade com seus ideais culturais.”.
Nesse contexto, ele aponta que o homem para viver em sociedade, precisa primeiramente aprender a conviver com suas frustrações, exigências individuais de satisfação e aquilo que é socialmente permitido.
3 – AS FRUSTRAÇÕES E O USO INDISCRIMINADO DAS DROGAS[3]
Vê-se que as frustrações e os conflitos que elas desencadeiam têm provocado muitos problemas na sociedade atual.  Um desses problemas é o uso de drogas, que por sua vez causam delírios e prazeres ao cérebro dos homens. Nessa vertente vê-se que muitos jovens buscam as drogas para satisfazerem suas frustrações e angústias. Muitas dessas ações nascem no seio da estrutura familiar, cujo papel do pai é de grande importância, sendo elemento essencial e norteador na formação psíquica do ser humano.
O papel paterno quando não desenvolvido acaba representando o desamparo que se torna o afeto subjetivo central. Freud apresenta a questão do desamparo, como certo desencantamento do mundo.
Diante disso, cita-se um exemplo: uma criança que vê o pai como herói e de repente descobre que ele não é o herói que ele sonhava, estará frustrada, desamparada com os acontecimentos a sua busca por prazeres será maior, o que possibilitará o contato com as drogas um caminho mais fácil para a solução dos seus conflitos.
Segundo Freud: “desamparo sentido ao se defrontar com a irredutibilidade da contingência de sua posição existencial diante da contingência de acontecimentos que sempre apresentam na dimensão do acaso.”.
Com isso na atualidade, a busca cada vez maior dos homens por drogas dá-se pelo desamparo desencadeado por incidências psíquicas de frustrações causando um desencantamento do mundo.
A modernidade e a socialização dos homens assim como seus conflitos fazem com que busquem um modo de defesa contra o sofrimento psíquico adivinho do sentimento de desamparo, aqui relacionado à questão das drogas.  Esses estímulos psíquicos apresentam reações diversas tendo como principio o prazer, Freud alude que, “A propósito da vida humana” rege-se, então, pelo "princípio de prazer", ainda que ele não tenha possibilidade alguma de ser executado, já que todas as normas do universo mostram se contrárias: "a intenção de que o homem seja ‘feliz’ não se acha incluída no plano da ‘Criação’." A felicidade em sentido restrito - satisfação de desejos represados em alto grau - só é possível enquanto manifestação episódica. E a infelicidade, muito mais freqüente, vem-nos de três direções:
O nosso próprio corpo, condenado à decadência e dissolução; o mundo externo material, que pode voltar-se contra nós com forças de destruição esmagadoras e impiedosas; a sociedade e a cultura. Penso que a ultima é a mais cruel de todas, pois são os conflitos da sociedade moderna que direcionam as pessoas a buscas de prazeres através das drogas. Muitas vezes, isso acontece quando os seres humanos não conseguem vencer seus obstáculos e com eles se tornam frustrados, desamparado perante a suas conquistas, partem em busca de algo que sacie seus desejos, é nesse contexto que surgem as drogas, tendo o principio de que proporcionam prazeres e preenchem os vazios produzidos por seus fracassos.
Com isso, a busca para a solução dos problemas e sofrimentos, muitos tentam , porém não conseguem, colocando o sofrimento em primeiro lugar, à frente da obtenção de prazer. Freud passa, então, a considerar algumas das diferentes vias pelas quais buscamos evitar os sofrimentos e alcançar a felicidade, partindo da aniquilação dos nossos próprios desejos, por meio de alguma prática de ascese espiritual; a reorientação dos objetivos das pulsões para evitar frustrações. É este o caso das sublimações, como ocorre, por exemplo, na produção de obras de arte. O trabalho pode classificar-se aqui, quando não constituir apenas um meio de garantir a satisfação de necessidades; o distanciamento da realidade, por meio da fruição de obras de arte; o ‘abandono’ da realidade, por meio da loucura; a busca de ‘objetos de amor’, para os quais dirigirem a pulsão libidinal.
[4]Sem pretender esgotar todas as vias, ele reflete que a escolha individual pela particular combinação de que quantidade de pulsão dirigir para cada uma dessas alternativas depende da especificidade de cada sujeito e da singularidade da interação entre constituição psíquica e circunstâncias do ambiente e da história de cada um. Mas vamos considerar, ainda, duas outras vias explicitadas por Freud, fundamentais para o tema que percorremos:
A deformação do mundo real, por meio de um delírio de massa, como no caso das religiões. Aqui, se paga o preço da intimidação da inteligência e do infantilismo psicológico; a mais grosseira, porém a mais eficaz: uma droga. A droga tanto aumenta o prazer, quanto diminui a sensibilidade ao desprazer. E oferece-se como um meio de atingir um alto grau de independência do mundo externo e da realidade, proporcionando um refúgio em um mundo próprio.
È importante frisarmos que o valor que vários indivíduos e sociedades conferem à droga, reservando-lhe um lugar permanente na economia da libido humano, ocorre da seguinte forma: o desperdício de uma grande quota de energia com a droga, que poderia ser empregada no aperfeiçoamento do destino humano; o fato de a independência da realidade e o refúgio no mundo interior, por meio da droga, poderem constituir-se em.
 [5]Para Freud “A felicidade, no sentido reduzido em que a reconhecemos como possível, constitui um problema da economia da libido do indivíduo”. Não existe uma regra de ouro que se apliquem a todos: todo homem tem de descobrir por si mesmo de que modo específico ele pode ser salvo. Todos os tipos de diferentes fatores operarão a fim de dirigir sua escolha. (...)
Freud é claro em suas posições em relação ao uso das drogas: o gozo absoluto é impossível e somente dose moderadas de prazer oferecem-se como viáveis. A busca dessa felicidade moderada apresenta-se como um desafio considerável: cada um de nós tem que encontrar, por si próprio, o seu caminho particular, que conduza à meta desejada. Alguns fracassarão nesse trajeto e, como alternativa de prazer, recorrerá a trilhas substitutas: a neurose, a psicose ou a toxicomania; ou, ainda, à religião, que oferece os seus delírios coletivos, que podem ser empregados em substituição à elaboração de sintomas individuais.
4- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse estudo apresentou algumas teorias de Freud relacionadas às drogas, observou-se que muitos problemas que a sociedade moderna enfrenta têm fundamentos nos estudos desenvolvidos por ele. Viu-se que são conflitos internos que muitas vezes, apresentam frustrações e decepções que acabam desencadeando problemas com o desejo e prazer humano, levando muitos a buscar alternativas, aqui trabalhado com o tema drogas.
Muitas dessas frustrações aparecem no convívio familiar, como é o caso apresentado por Freud em Totem e Tabu e na sociedade bloqueada. A respeito disso pode-se citar o pensamento de Marta Conte, "(...) o traficante acaba ocupando um lugar de suplência da função paterna” devida o desamparo vivido pelo drogado.
Enfim, pode-se perceber que muitos problemas da sociedade contemporânea podem ser resolvidos no campo da psicanálise, baseando-se nas teorias Freudianas.
 5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
In: Freud, Sigmund. Edição Padrão brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. 2. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1987. vol.7, p.118-160
Freud, Sigmund. O mal-estar na civilização. In: FREUD, Sigmund. O futuro de uma ilusão, O mal-estar na civilização e outros trabalhos. v. XXI (1927-1931). Tradução de José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1996, p. 73-148.

Freud, Sigmund. Totem e Tabu. Tradução de Órizon Carneiro Muniz. Rio de Janeiro: Imago, 2005.
Conte,Marta. http://www.scielo.br/scielo.php





[1]  Julio César Xavier Langa.
[2] In: Freud, Sigmund. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. 2.ed. Rio de Janeiro : Imago, 1987. vol.7, p.118-160

[3] Freud, Sigmund. Totem e Tabu. Tradução de Órizon Carneiro Muniz. Rio de Janeiro: Imago, 2005.

[4] Freud, Sigmund. Totem e Tabu. Tradução de Órizon Carneiro Muniz. Rio de Janeiro: Imago, 2005.

[5] Freud, Sigmund. O mal-estar na civilização. In: FREUD, Sigmund. O futuro de uma ilusão, O mal-estar na civilização e outros trabalhos. v. XXI (1927-1931). Tradução de José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1996, p. 73-148.


A PEDOFILIA NA VISÃO DE FREUD
1ROSEMERE REBOLO BARBOSA
                                                                                        Aluna do Curso de  Especialização
                 Em Filosofia e Psicanálise
                     NEAAD/UFES
RESUMO
O aumento e a extensão dos casos de agressões sexuais em nossa sociedade tem elevado os esforços no sentido de compreender este tipo de violência. A pedofilia é um desses casos de agressão sexual com o qual nós temos nos defrontado quase que diariamente em notícias de jornais e revistas. Pesquisas têm sido realizadas em várias áreas (Psicologia, Psicanálise, Psiquiatria, Medicina, entre outras), resultando em medidas de ordem preventiva e em intervenções propriamente dita. Este artigo busca entender e analisar a Pedofilia com o olhar da Psicanálise, utilizando os estudos e abordagens de Sigmund Freud, na tentativa de entendermos melhor esta perversão que assola a humanidade, estabelecendo relações com a teoria da sexualidade.
Palavras chaves: Pedofilia- Psicanálise- Freud- Perversão - Sexualidade

ABSTRACT

The increase and extension of the cases of sexual assault in our society has increased efforts to understand this kind of violence. Pedophilia is a case of sexual assault with which we have faced in the news almost daily in newspapers and magazines. Research has been conducted in several areas (Psychology, Psychoanalysis, Psychiatry, Medicine, and others) resulting in order preventive measures and interventions in itself. This article seeks to understand and analyze the Pedophilia with the look of Psychoanalysis, use studies and approaches of Sigmund Freud, in an attempt to better understand this perversion that destroys humanity by establishing relations with the theory of sexuality.
Keywords: Pedophilia-Psychoanalysis-Freud-Perversion - Sexuality



1-INTRODUÇÃO
A pedofilia segundo a Organização Mundial da Saúde é a ocorrência de práticas sexuais entre um indivíduo maior de 16 anos com uma criança na pré-puberdade.
Sabe-se que a pedofilia já existe desde a Grécia Antiga quando várias pinturas já eram exibidas com pessoas adultas fazendo sexo explícito com adolescentes. O sexo dos efebos e as aventuras eróticas dos adultos eram consideradas como um rito de passagem da infância à adolescência. Esse ritual iniciático, inscrito num contexto social e ideológico, representava as obrigações cívicas e legais que os jovens deveriam seguir.
Em vários mosteiros budistas, ainda hoje, pessoas mais novas dormem com pessoas mais adultas.
Por um bom tempo, o olhar sobre a sexualidade infantil ficou restrito à sensibilidade dos filósofos e dos pintores da Idade Média, mas só a partir de Freud que o mundo ocidental visualizou a dimensão das manifestações sexuais da infância. Até então, essas eram consideradas um fator latente e que, se fossem despertadas pelo adulto, poderiam trazer conseqüências terríveis.
Do ponto de vista psicanalítico a pedofilia representa uma perversão sexual que envolve fantasias sexuais da primeira infância abrigadas no complexo de Édipo. Este termo, perversão, é utilizado pela psiquiatria para designar condutas sexuais que seriam desviantes em relação a uma norma sexual e social.
2Freud nos lembra que, sob a influência da sedução, o pequeno ser “induzido a todo tipo de limitações sexuais”, desenvolve uma disposição perversa poliforma em relação ao objeto de satisfação, ou seja, o desejo da criança se espelha no objeto sexual, onde a relação é a primeira fantasia dela e procura explicar para si, tudo o que diz respeito à origem dos bebês, da vida. Pertencente à organização pré-genital, a perversidade infantil representa um dos tabus da sexualidade da cultura ocidental.
Segundo Freud “ a pedofilia representa uma escolha narcisista do objeto, isto é, o pedófilo vê uma criança como uma imagem espelhada dele mesmo quando criança.
Este artigo constitui uma elaboração teórica a respeito dos estudos desenvolvidos pela Psicanálise, especialmente por Freud, no sentido de nos revelar os motivos pelos quais o pedófilo, de forma devastadora, desrespeita todos os direitos e a moral de uma criança, já que os índices de pedofilia aumentam a cada dia, assolando o mundo inteiro , apesar deste distúrbio existir há muito tempo.
A maioria dos cidadãos permanece desinformada em relação às vicissitudes do desejo na pedofilia, seja pelo tabu do incesto e vergonha social que inibem a investigação ou pela dificuldade dos pais e educadores de lidarem com as manifestações da sexualidade infantil.

2-COMO SURGIU A PEDOFILIA3
Desde a Grécia antiga, várias pinturas já eram exibidas com pessoas já adultas fazendo sexo explícito com adolescentes. Em vários mosteiros budistas essa tradição ainda existe de pessoas mais novas dormirem com pessoas mais adultas.
Na China, castrar meninos para vendê-los a ricos pederastas foi um comércio legitimo durante milênios. No mundo islâmico, a rígida moral que ordena as relações entre homens e mulheres foi não raro compensado pela tolerância para com a pedofilia homossexual. Em alguns países isso durou até pelo menos o começo do século XX, fazendo da Argélia, Por exemplo, um jardim Das delícias para os viajantes depravados. Em épocas mais antigas, como no renascimento e durante a idade média, o casamento com crianças era comum pela criança ter o jeito mais adorado de ser, por serem mais bonitas, com as maçãs dos rostos bem rosadas e por terem cabelos longos. Várias mulheres casavam-se na puberdade ( Jornal, O Globo,27 de abril de 2002).
De acordo com o site Wikipedia, na Grécia Antiga as crianças ou adolescentes eram molestados constantemente por adultos que na verdade não sentiam amor, o casamento era somente uma ferramenta para que os pedófilos pudessem usar.
Os maridos eram escolhidos pelos pais, a casamento era só um tipo de convenção, pois as práticas homossexuais eram freqüentes. Havia também os escravos e escravas, que eram destinados à prática sexual.
No Oriente Médio, a Pedofilia faz parte dos costumes do povo, onde meninas de quatorze anos já constituem matrimônio. Esse matrimônio, para eles, é como se fosse um costume social, além de ser disseminado pelo Oriente Médio todo, é incentivado por razões religiosas.
Por toda parte onde a prática da pedofilia recuou, foi a influência do cristianismo e praticamente ela só, que libertou as crianças desse jugo temível.

4DEFINIÇÃO
É definido, pela Organização Mundial da Saúde, como a ocorrência de práticas sexuais entre um indivíduo maior de 16 anos com uma criança na pré-puberdade.
A Psicanálise encara a pedofilia como uma perversão sexual. Não é uma doença, mas sim uma parafilia, um distúrbio psíquico que se caracteriza pela obsessão por práticas sexuais não aceitas pela sociedade, como o exibicionismo e o sadomasoquismo. Muitas vezes o pedófilo apresenta uma sexualidade pouco desenvolvida e teme a resistência de um parceiro em iguais condições. Sexualmente inibido, escolhe como parceiro uma pessoa vulnerável.
Há no mundo muitos pedófilos que não precisam cometer atos sexuais com crianças, para eles bastam fotos em revistas ou imagens de crianças, que gera na pessoa um grande desejo sexual. Atuam somente em seus desejos, não tendo coragem de praticar suas fantasias com as crianças. Por isso nem todo pedófilo é um agressor.
Essa pessoa que pratica a pedofilia é uma pessoa aparentemente normal para a sociedade, o que facilita sua atuação. Muitos têm seus relacionamentos normais com adultos, e não uma fixação erótica somente por crianças, mas são completamente amantes do sexo. Na maioria dos casos esses indivíduos não agridem fisicamente as crianças, mas acaba seduzindo as mesmas e conquistando sua confiança.

3- UM OLHAR PSICANALÍTICO
       A perversão é um termo derivado do latim ( pervertire) utilizado na psiquiatria para designar condutas sexuais que seriam desviantes em relação a uma norma sexual e social. A partir do século XIX, foram incluídas entre as perversões práticas sexuais diversificadas como zoofilia, pedofilia, feitichismo, masoquismo, exibicionismo, etc. Freud, a partir de 1896, adotou este termo como um conceito da Psicanálise, constituindo-o em uma estrutura, assim como a neurose e a psicose (Roudinesco, 1998 ).
Em sua obra Três Ensaios sobre a teoria da Sexualidade ( 1905 ), ele centrou a sexualidade normal na questão da genitalidade, caracterizando a perversão por pulsões parciais. Neste contexto, a pedofilia é então, colocada como um desvio ao objeto sexual, sendo estas pessoas sexualmente imaturas, como será explicado adiante.
A partir de 1915, Freud fez diversas mudanças em sua concepção inicial de perversão, passando de uma descrição a uma explicação de como essa estrutura estaria organizada como base em defesas de recusa da realidade e de clivagem, isto é, este processo se daria através do que o autor chamou de renegação ou desmentida, segundo Lacan. A renegação seria um mecanismo de defesa utilizado pelo sujeito a fim de fazer com que coexistam duas realidades contraditórias: a recusa e o reconhecimento da ausência do pênis na mulher (Roudinesco, 1998).
Logo, o reconhecimento da mulher como um ser castrado implicaria ao homem enfrentar seus próprios temores de castração, algo que o perverso não conseguiria suportar por colidir com suas fantasias de onipotência. Assim, a partir daí, suas relações desenrolar-se-iam tratando os sujeitos como objetos, sendo esta a forma de garantir a onipotência e recusar a possibilidade de castração.
5Com relação especificamente à pedofilia, ela seria pertencente à estrutura de perversão na medida em que também ocorreria devido a processos de clivagem e recusa, sendo que a clivagem não diz respeito apenas à construção da sexualidade, mas principalmente ao eu ( Ferraz, 2000). Como conseqüência dessa cisão, de uma forma aparente, o pedófilo conseguiria ter uma vida considerada “normal” segundo os parâmetros sociais, como se aceitasse a angústia de castração. Entretanto, sua verdadeira forma de vida seria aquela em que, devido a fixação em uma sexualidade pré-genital, pessoas ainda não desenvolvidas sexualmente (Hachet, 2005 ) que, por sua vez, ainda não atingiram uma sexualidade genital, constituiriam objetos descartáveis, permitindo o sentimento de poder e triunfo do pedófilo sobre a realidade ( Ferraz, 2000 ).
Nos Três Ensaios para uma Teoria da Sexualidade, 1905, Freud escreve que a opinião popular “acredita” com firmeza, que falta, em absoluto, na infância a pulsão sexual e que essa só se manifestaria na puberdade. Desde então, a irrupção sexual na infância tem sido estudada pelos psicanalistas, sendo, hoje, um consenso que a criança se constitui na fonte da pulsão e do desejo do Outro, conceito que designa a função simbólica da linguagem determinante na constituição do sujeito. As considerações convencionais sobre a inocência perderam terreno, porque a primeira infância é palco da “sexualidade perversa poliforma”, pivô dos conflitos edípicos.
Pertencente à organização pré-genital, a perversidade infantil representa um dos tabus da sexualidade da cultura ocidental.
As crianças, ávidas por saber, pesquisam e indagam sobre tudo o que for relativo ao enigma da sexualidade. Essa curiosidade desperta uma incessante procura de novos significados e as fantasias sexuais expressam, com nitidez, a adesão aos grandes temas infantis: o nascimento e a morte.
Se a negligência imperou por século e, depois o cuidado e a atenção traçou um período de preservação da vida das crianças, hoje temos pela frente uma forma distinta de ameaça à infância.
A pedofilia, do ponto de vista psicanalítico, representa uma perversão sexual que envolve fantasias sexuais da primeira infância abrigadas no complexo de Édipo, período de interna ambivalência da criança com os pais. O ato pedófilo caracteriza-se pela atitude de desafiar a lei simbólica da interdição do incesto. O adulto seduz e impõe um tipo de ligação sigilosa sobre a criança, na tentativa de mascarar o abuso sexual.
Num artigo de Freud intitulado “Os Delinqüentes por sentimento de culpabilidade”, de 1916, vimos de que maneira a psicanálise se conecta com o campo jurídico, procurando esclarecer a subjetividade do criminoso. Freud investiga a relação do delinqüente com o sentimento de culpa edípico, expressos por fantasias inconscientes dos crimes humanos como “ o assassinato do pai e o incesto com a mãe”, considerados abomináveis na espécie humana.
Em Totem e Tabu, de 1913, Freud nos aborda sobre alguns pontos de concordância entre a vida mental dos selvagens a o dos neuróticos. Nesta obra ele procurou destacar o homem primitivo pela via da estética, “pelo legado dos movimentos e utensílios, pelo que restou da arte, da religião e da concepção da vida”, na tentativa de deduzir os vestígios do totemismo remanescentes da infância. Os sintomas neuróticos e as fantasias sexuais infantis encontravam eco no estágio inaugural do registro da lei do Pai, narradas entre as lendas e os mitos da história do homem.
O horror ao incesto, verificado entre os selvagens e os neuróticos, significa a manifestação que põe em relevo a função do pai como suporte da lei simbólica.
6Freud nesta obra aponta relações entre o desenvolvimento da civilização e a repressão dos instintos. Tendo como principais elementos contribuintes sua hipótese da horda primeva e da morte do pai primitivo, hipótese esta desenvolvida a partir de idéias de Darwin que relata uma estrutura selvagem onde um pai hostil detinha o poder do grupo expulsando os filhos a medida em que estes se desenvolviam a ponto de despistar as fêmeas e seu lugar no grupo.
Ele remonta o nascimento da civilização onde a religião tem um papel fundamental. Derivada do animismo e do sistema totêmico, para Freud, a religião faz parte do mecanismo de repressão dos instintos e impulsividades humanas.
Os cerimoniais, os ritos, os sacrifícios realizados constituíam uma maneira encontrada pelos primitivos para canalizar essa energia reprimida. Em o Mal – Estar na civilização, Freud reafirma essa idéia colocando a religião como um dos artifícios utilizados pelos homens para suportar a realidade, como válvula de escape tal como a sublimação ao uso de drogas.
Freud nos descreve um povo submetido a vários tipos de proibições. Tudo é proibido, e eles não têm nenhuma idéia do porque e não lhes ocorre levantam a questão. Pelo contrário, submetem-se às proibições como se fossem coisas naturais e estão convencidos de que qualquer violação terá automaticamente a mais severa punição.
Podem ser diferentes na essência, mas o mecanismo parece ser o mesmo dos neuróticos obsessivos. O significado da palavra tabu refere-se ao proibido e ao misterioso, existem muitos tabus que são totalmente destituídos de sentido lógico. Dentro das várias restrições que existem ligadas aos tabus pode se destacar duas leis básicas do totemismo comuns a outras organizações: não matar o animal totêmico e evitar relações sexuais com membros do clã totêmico do sexo oposto.
Estes devem ser, então, os mais antigos e poderosos dos desejos humanos, matar o pai e cometer incesto. Esta compreensão, pois se não fosse verdadeira a afirmação não haveria necessidade de uma lei tão severa que as proibissem e também não se faria presente em todas as manifestações sociais, é diretamente ligada ao que Freud afirma existir como sendo duas pulsões principais, a agressividade e a sexualidade.
Para a civilização existir é preciso a repressão dessas duas pulsões. Se não houvesse uma tendência natural a realizar tal instinto esse não seria considerado crime, e não precisaria de uma lei, tais instintos, como os sexuais por exemplo, reprimidos podem ser observados como forças motivadoras das neuroses.
O tabu se transforma em uma força com base própria, se faz nas normas, do costume e finalmente torna-se lei. Não se faz necessária, segundo Sigmund Freud, nenhuma ameaça externa de punição, pois há uma certeza interna, uma convicção moral, de que qualquer violação conduzirá à desgraça insuportável. Essa desgraça insuportável é o que remete ao que Freud designou como a morte do pai primevo.
Os irmãos que foram expulsos de horda pelo pai, voltaram e juntos o mataram e depois comeram seu corpo, e através da sua carne, cada irmão adquiriu uma parte do poder do pai. Odiavam o pai, mas também o admiravam, por conseqüência do seu ato, se arrependeram surgindo o remorso, o sentimento de culpa. A proibição de matar o totem surge então como uma tentativa de anular esse ato, o totem passa a ser o pai simbólico. E toda essa simbologia e restrições que se sucedem vão delineando a civilização.
Freud ressalta que o estudo das neuroses são importantes para o estudo da civilização. Ele afirma que a civilização é composta por conteúdos egoísticos e eróticos, comparando o sistema totêmico, o pensamento mágico e anímico, se assemelha com a fase do desenvolvimento do auto-erotismo, narcisismo, impulsos sexuais são voltados para si mesmo, o ego passa a ser o objeto ao qual essa energia é direcionada.
7Em O Mal- estar na Civilização, de 1930, Freud sustenta que o ser humano é, na sua essência, agressivo, afirmando que, “os homens não são criaturas gentis que desejam ser amadas e que, no máximo, podem defender-se quando atacadas, pelo contrário, são criaturas entre cujos dotes instintivos devem-se levar em conta uma poderosa quota de agressividade”. (Freud, 1996, p.116 ). Pondera o mestre que, quando os freios inibitórios quedam-se desatentos, a agressividade “também se manifesta espontaneamente e revela o homem como uma besta selvagem, a quem a consideração para com sua própria espécie é algo estranho ( Freud,1996, p.116 ), acreditando ser impossível, ao homem, cumprir o mandamento “ Ame a teu próximo como a ti mesmo “.
A tendência natural do homem à agressividade mútua é o grande obstáculo à civilização, tendo ela “de utilizar esforços supremos a fim de estabelecer limites para os instintos agressivos do homem e manter suas manifestações sob controle, por formações psíquicas reativas” ( Freud,1996, p.117).
8Com a finalidade de inibir a agressividade que se opõe a ela, a civilização internaliza, introjeta, no homem, essa pulsão agressiva, fazendo-a retornar a seu lugar de origem,direcionando-a a seu próprio ego, que é assumida por parte dele.
Freud (1996,p.127) diz que: “A tensão entre o severo superego e o ego, que a ele se acha sujeito, é por nós chamada de sentimento de culpa; expressa-se com uma necessidade de punição.”
O sentimento de culpa, para Freud ( 1996, p.131) tem duas origens: ‘uma que surge do medo de uma autoridade e outra positiva, que surge do medo do superego.”
Ele afirma que o inconsciente dos homens é animado pelos desejos que os perversos põem em cena. Na perversão, as pulsões inconscientes, aparecem “ a céu aberto”; no neurótico as pulsões agem na clandestinidade, disfarçadas de várias maneiras, através dos sintomas: “ a neurose é o negativo da perversão”. As perversões sexuais deixam então de ser uma prática que só eles, os perversos exibem e passam a ser entendidos como algo presente, ainda que no inconsciente, em todos os seres humanos.
4-CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos concluir que a pedofilia existe sim e, parece ser cada dia mais presente no século vinte e um.
A pedofilia é uma prática sexual considerada como perversão desde o século XIX. Ainda em suas origens gregas, o termo paidophilos significava o amor de um adulto pelas crianças (pais = criança, phileo = amar), mas tornou-se um termo designado para caracterizar comportamentos inadequados socialmente. Conforme a Classificação Internacional das Doenças (CID), a pedofilia é considerada um transtorno de preferência sexual, designada como ‘parafilia’. São consideradas também parafilias o voyeurismo, exibicionismo, fetichismo, fetichismo sexual e sado masoquismo. Comuns a todos estes comportamentos os anseios, fantasias ou comportamentos sexuais recorrentes e intensos que envolvem objetos, atividades ou situações incomuns e causam sofrimentos clinicamente significativos ou prejuízo de funcionamento social para o individuo.
Freud constatou que durante o desenvolvimento das etapas da sexualidade da criança, esta tem possibilidades de sofrer repressões, devido a questões culturais, morais e religiosas. Um processo de repressão excessiva pode gerar na vida adulta neuroses ou perversões sexuais. As perversões são as expressões convertidas das pulsões designadas normais, e é utilizada para caracterizar os desvios em relação a uma norma social e sexual.
A escolha dos pedófilos pode ser limitada aos seus próprios filhos, filhos adotivos, parentes ou crianças fora do seu contexto familiar. Podem sentir atração exclusivamente por crianças ou por crianças e adultos.
O que antes era oculto passou a ganhar visibilidade e alta definição. Os internautas poderão ser nada mais que neuróticos e ficar, para sempre, nas fantasias ou pervertidos, que executam o abuso sexual com refinamentos de crueldade. Em todos os casos vale lembrar o que a Psicanálise ensina: o tabu aqui, a criança como desencadeante da libido e objeto de satisfação, gera o desejo. Mas a lei, seja a simbólica, estruturante de nossa condição humana, ou a social, civil ou penal, que rege a convivência entre os cidadãos, deve prevalecer, criando direitos e obrigações para interditar as aberrações e preservar a civilização.
5-REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Ferraz, F. G. A possível Clínica da Perversão. In: A clínica conta histórias. São Paulo, Escuta: 2000.
In: Freud, Sigmund. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. 2.ed. Rio de Janeiro : Imago, 1987. vol.7, p.118-160
________. (1916). Criminosos em Consequência do sentimento de culpa. In: Obras Psicológicas completas:Edição Standard Brasileira. Vol. XIV Rio de Janeiro: Imago, 1996, p.347-348.
________.(1927-1931). O mal-estar na civilização. In: FREUD, Sigmund. O futuro de uma ilusão, O mal-estar na civilização e outros trabalhos. v. XXI.Tradução de José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1996, p. 73-148.
________.(2005). ( Totem e Tabu. Tradução de Órizon Carneiro Muniz. Rio de Janeiro: Imago, 2005.
Hachet, A. Agressores sexuais: é possível um tratamento psicanalítico sob prescrição judicial? Agora. Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, 2005 .
Pesquisa, Internet. Wikipédia. Abuso sexual de Menores. São Paulo- SP-Brasil- htp://pt.Wikipédia.org/wiki/Pedofilia.
Roudinesco, E. Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1998.
Freud, S.
Três ensaios sobre a teoria da sexualidade : aberrações sexuais.


1 Rosemere Rebolo Barbosa
2 Freud, S. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade : aberrações sexuais
3 Freud, S. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade : aberrações sexuais
4 -Roudinesco, E. Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1998..
5 -Freud,S. (1916) Criminosos em Consequência do sentimento de culpa. In: Obras Psicológicas completas:Edição Standard Brasileira. Vol. XIV Rio de Janeiro: Imago, 1996, p.347-348.
6 Freud, Sigmund. O mal-estar na civilização. In: FREUD, Sigmund. O futuro de uma ilusão, O mal-estar na civilização e outros trabalhos. v. XXI (1927-1931). Tradução de José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1996, p. 73-148.
7 Freud, Sigmund. O mal-estar na civilização. In: FREUD, Sigmund. O futuro de uma ilusão, O mal-estar na civilização e outros trabalhos. v. XXI (1927-1931). Tradução de José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1996, p. 73-148.
8 Freud, Sigmund. Totem e Tabu. Tradução de Órizon Carneiro Muniz. Rio de Janeiro: Imago, 2005.











CONSEQUÊNCIAS DA VIOLÊNCIA VERBAL E FÍSICA
NA VIDA DO SER HUMANO NA VISÃO FREUDIANA




Mary Cristiane de Araújo Mesquita
Estudante do curso de pós-graduação em Filosofia e Psicanálise
UFES, Itapemirim - ES


Resumo: O presente artigo busca uma reflexão das consequências dos abusos sofridos na infância e tenta elucidar, à luz do trabalho do Dr. Sigmund Freud, nas reflexões existentes em alguns de seus trabalhos, os “porquês” de certos comportamentos e doenças, sejam de alunos (considerados “problemas” em sala de aula), sejam das pessoas que nos cercam. E, sugerir medidas que poderão ajudar tais pessoas superar as graves consequências dos assédios morais e físicos.


Palavras-chave: violência – abuso – assédio – reflexão.


Abstract: This article aims to reflect the consequences of abuse suffered in childhood and tries to elucidate the light of the work of Dr. Sigmund Freud, the reflections that exist in some of his work, "whys" of certain behaviors and diseases, are students (considered "problems" in the classroom), are the people who surround us. And, to suggest measures that could help such people overcome the serious consequences of moral and physical harassment

Keywords: violence - abuse - harassment – reflection





Introdução


A existência de traumas (muitas vezes escondidos em um lugar bem “secreto” da psique/mente/alma humana) que algumas pessoas enfrentaram em sua infância, e que não foram tratados de maneira adequada, ou sequer notados, poderão repercutir em sua vida adulta. Podendo trazendo-lhes transtornos emocionais, nos relacionamentos, na própria construção de sua personalidade e na sua maneira de “encarar” o mundo. E, quando isso ocorre há uma necessidade de aliviar a angustia, as dores da alma e as neuroses, o que tem levado inúmeras pessoas a buscarem ajuda terapêutica, psiquiátrica e medicamentosa.
Mas como isso é possível? Tantas inovações tecnológicas, a medicina avançou, os fatos que ocorrem no mundo se tem acesso quase em tempo real. A qualidade de vida melhorou para muitos, o homem conseguiu criar clones (quase “deuses”), trabalhar com células troncos, etc. E, ter-se pessoas que por traumas ocorridos na infância ficam “problemáticas”, “neuróticas” ou quem sabe loucas?
Segundo Sigmund Freud: ...A psicanálise foi obrigada a atribuir a origem da vida mental dos adultos à vida das crianças e teve de levar a sério o velho ditado que diz que a criança é o pai do homem...1, portanto, na infância encontrar-se respostas, ou pelo menos se tenta, para alguns dos infortúnios das relações, das agonias da alma e das neuroses do ser humano.








Desenvolvimento

O Dr. Sigmund Freud, em seu trabalho Totem e tabu, nos diz que a sociedade tem a necessidade de uma figura representativa, denominada “pai primevo”, esse mito é uma metáfora da estruturação do psiquismo humano. Esse “pai” simbolicamente representa da interdição das pulsões, delimita até onde o homem pode ir para satisfazer seus impulsos, levando em conta o contexto sócio-cultural no qual está inserido. Ele, também, daria a proteção, cuidado, indulgência, e serviria para manter a ordem, a moral, a interdição das pulsões (seja a agressividade, seja a do incesto), figura como autoridade coerciva (castração).
Saliento, para fins de conhecimento, que a figura mítica criada por Freud (pai primevo) não se restringe ao pai biológico, mas expande-se para quem quer que desempenhe tal papel: as autoridades, as instituições, um padrasto, a religião, ou seja, qualquer figura que represente o PODER e a ORDEM (talvez, a proteção).
No entanto, ao dirigir-se o olhar de maneira mais particularizada para indivíduos, casos específicos do cotidiano e situações que ocorrem há muitos anos, sendo considerados para muitos - dependendo do contexto sócio-ecônomico-religoso - um tabu abordar tal assunto: o abuso verbal ou físico pela figura dos pais, familiares, professores ou amigos.
Este artigo não tem a pretensão de analisar psicanaliticamente os casos que serão expostos, mas tem a necessidade de sacudir, ou pelo menos de inquietar o leitor e fazê-lo refletir sua conduta e a relação, sejam com seus filhos, sobrinhos e alunos. E, também, direciona-se à grande relevância do professor que, na sua prática pedagógica, influenciará o comportamento daquele ser tão pequeno (refiro-me ao Ens. Fund. I)
Freud diz:
Não somos apenas o que pensamos ser. Somos mais; somos também, o que lembramos e aquilo de que nos esquecemos; somos as palavras que trocamos, os enganos que cometemos, os impulsos a que cedemos, “sem querer”.”2


Primeiro abordaremos, sucintamente, o abuso verbal3 infligido às crianças justamente no período da formação de seu caráter e delineação de sua personalidade. E, fica a pergunta, como será esse adulto?

CASO A – Uma menina de dez anos, pobre, sem educação doméstica (ou “modos para uma mocinha”), e sempre motivo de deboche por parte dos colegas mais abastados ou em melhor situação que a dela. Certo dia, interrompe a aula da professora, após por três vezes (1ª baixinho, a 2ª um pouco mais alto e a 3ª gritando). A professora já lhe havia pedido calma, que passaria um exercício para a turma (muito agitada e barulhenta) e conversaria com a mesma. Porém, após o grito tudo ficou em silêncio... Ela disse: _EU QUERO MORRER!!!! A professora entendeu o pedido de socorro, sentou-se e dirigindo-se a aluna deu-lhe a oportunidade de esclarecer para todos o “porquê” ela queria morrer. Disse ela que tinha três motivos: um tinha vergonha do pai, pois bebia e saia nu na rua, segundo que ela era uma assassina; o terceiro a turma contou por ela, circulava na rua que a mesma havia sido vendida por R$ 50,00 para a tia, pela avó. A mesma avó que lhe chamava de traste, que ela era que deveria ter morrido e não a mãe (a própria avó teve que fazer a escolha, ou a filha ou a neta – e como a filha apanhava muito, que viesse a criança). Mas, nunca deixou de jogar-lhe isso em face, além de outros xingamentos e depreciações inimagináveis. A menina crer que é a culpada da morte da mãe, não possui nenhuma referência da figura do pai primevo (??).

CASO B – Outra menina, pais separados aos cinco anos; mãe extremamente autoritária, imediatista; o pai carinhoso, porém omisso e infiel. Nesse caso em tela a menina cresceu ouvindo que tudo que fazia não dava certo; se algo quebrasse a culpa era dela, que era igual ao pai (esse era o pior dos xingamentos), etc. E, dos colegas e familiares sofreu a perseguição de ser chamada de quatro olhos, baleia, covarde, e outras pornofonias não indicadas para serem aqui descritas. Pergunto... onde estava proteção a essa mutilação psíquica? E, como será essa criatura... feliz...segura?


Os casos relatados podem ter ocorridos em lugares fechados e não de domínio público, todavia, hoje há amparo legal contra tal tipo de violência, e que não partiu do núcleo familiar, porém da necessidade de toda uma sociedade (um exemplo é a Lei contra a alienação parental, que entrou em vigor em setembro deste ano).
Não entra-se no mérito da pedofilia, nos casos a seguir, mas sim, da falta da proteção que deveria se ter em casa, e que há muitos casos tenebrosos surgidos dentro da família, como é o seguinte caso:


CASO I – Sala de audiência, um menino de nove anos sendo interrogado por quase quarenta minutos, sem o juiz obter qualquer sinal ou som da figura de cabeça baixa e encolhida na cadeira. Até que um iluminado sugeriu ao juiz perguntar se o menino lia e escrevia. Sinal positivo com a cabeça. O juiz pergunta se o pai mexia com a família a noite, se realmente ele colocava algo na lamparina que todos ficavam entorpecidos/paralisados, e “mexia” com a mãe, as duas irmãs e um outro irmão? O menino escreve no papel A4 em letras pequenas “sim”. O juiz cautelosamente pergunta se o pai dele introduzia o pênis nele? O SIM ocupou toda a folha do papel.

CASO II – Menina de cinco anos é esbofeteada pela empregada, para que lhe fizesse sexo oral. E, quando a mãe chega em casa e a garotinha lhe conta tal fato, leva uma surra. Nunca mais disse a sua mãe quando e por quem, posteriormente fora violada. Um sentimento de culpa se instalou.


Infelizmente os casos relatados são verídicos e dolorosamente reais nos adultos que essas crianças se tornaram ou se tornaram. Onde estava o protetor, o que ampararia e daria amor, colo e segurança? Onde?
Nos casos b e II, teve-se a autorização para dizer como foi o amadurecimento e as consequências dos abusos sofridos. A pessoa funcionalmente está paralisada, com depressão crônica, já no sétimo remédio, e deseja ardentemente não acordar no dia seguinte. Tornou-se um adulto inseguro de suas capacidades, é subserviente, pois pede desculpas o tempo todo (complexo de culpa), e não tem amor próprio, sempre coloca os outros em primeiro plano. Teve um relacionamento tardio, e como Freud explica – quase tudo – a pessoa com quem se relacionou tinha as características paternas e maternas, talvez buscou achar no outro o pai primevo.
Uma reflexão interessante, e que você poderia avançar mais um pouco (articulando com Freud, obviamente), é a referente os avanços do conhecimento e sua ineficácia diante do sofrimento humano.











Conclusão


A complexidade da obra freudiana, principalmente sendo seus escritos finais e o não conhecimento prévio trouxe dificuldade de interpretação e aplicação do texto. Talvez, o fato de Freud abordar que muitas das neuroses advêm da sexualidade reprimida, feriu alguns “tabus” internos. Crê-se que a leitura de seus escritos amplia a visão de mundo e do próprio ser. Quebra paradigmas.
Mas, nos casos relatados onde estava a figura do pai primevo???? Por isso, a sociedade precisou criar leis, o ECRIM. E, mesmo assim, casos desse porte ocorrem diariamente... que tipo de adultos a sociedade terá????
Freud, mais uma vez diz: Não me lembro de nenhuma necessidade da infância tão grande quanto a necessidade da proteção de um PAI.4

























REFERÊNCIAS


FREUD, Sigmund. Totem e tabu e outros trabalhos. Vol XIII, PG 114 http://www.filpsi.neaad.ufes.br/moodle/course/view.php?id=4


FREUD, Sigmund. http://www.pensador.info. Acesso em: 16 out.2010.
1 FREUD, Sigmund. Totem e tabu e outros trabalhos. Vol XIII, p. 114
2 FREUD, Sigmund. http://www.pensador.info. Acesso em: 16 out.2010.

3 Também conhecido como assédio moral
4 FREUD, Sigmund. http://www.pensador.info. Acesso em: 16 out.2010