segunda-feira, 30 de maio de 2011

A Angústia em Lacan, Heidegger, kierkegaard


Alexon silva Tavares (Especializando em Filosofia e Psicanálise - UFES)


O presente texto tem por objetivo trazer reflexões sobre a temática angústia, tendo como referência Lacan e a angústia em oposição à tecnociência, Heidegger a angústia em oposição à metafísica e kierkegaard a angústia em oposição à organização Hegeliana da filosofia.
No pensamento Lacaniano o tema angústia não é trabalhado a partir da ciência (psicologia e psiquiatria), ele parte do viés filosófico, pois Lacan vê a angústia na filosofia como possibilidade da existência e não de fuga.
Para Lacan a angústia é um afeto, estruturante da existência, e como tal, interessa a psicanálise, uma vez que, é um afeto que não se engana.
Lacan constitui angústia, enquanto mecanismo que faz aparecer alguma coisa, no lugar do a como objeto do desejo, como imagem de falta. Por que o objeto a não é especulável, pelo contrário, enquanto mais o sujeito tenta dar corpo ao que no objeto do desejo representa a imagem espetacular, más ele é logrado. Quando algo surge no lugar da castração imaginária, é isso que provoca angústia, uma vez que a falta falta. È isso que dá o verdadeiro sentido ao que Freud designa como perda de objeto em relação a angústia.
A angústia surge quando se dá a falsa demanda uma resposta obturante que não preserva o vazio, causa do desejo, uma obturação que não tem nada a ver com o conteúdo da demanda, se positivo ou negativo: È ai que surge esta perturbação onde se manifesta a angústia.
Em Lacan, a angústia possui uma relação extremamente necessária com o desejo. A angústia eu modo sob o qual se mantém a relação com o desejo, e neste caso, o desejo é remédio contra angústia.
Heidegger trabalha o problema do ser numa perspectiva fenomenológica, distanciando-se da visão metafísica tradicional.
O ponto de partida de sua reflexão é o ser que se dá a conhecer imediatamente, ou seja, o próprio homem. Em seu aspecto cotidiano, a vida humana se apresenta como uma forma inautêntica de existência, marcada por três características: A felicidade, a existencialidade e a decadência.
O cotidiano como facticidade manifesta o homem como Ser-no- mundo, jogado no mundo, sem que isso tenha sido escolha sua. A existencialidade é um aspecto do cotidiano que manifesta o ser humano como sendo uma antecipação de suas possibilidades, objetivação daquilo que ainda não é. Finalmente o ser humano se manifesta como um ser decaído, pois as preocupações cotidianas da existência inautêntica o desviam do seu projeto essencial, desviando-o da finalidade principal de tornar-se ele mesmo.
Neste sentido, o homem é marcado pela angústia que, por sua vez, provoca uma espécie de 'aversão' diante de um ser percebido como ausência.
Heidegger vê a angústia, como um sentimento parecido com o medo diante de algo ameaçador, sendo determinada simplesmente pelo fato do homem se perceber como ser-no-mundo, sendo um sentimento que, não tem uma razão especifica simplesmente se manifesta como se o mundo perdesse o seu sentido.
A filosofia de kierkegaard trabalha angústia, a partir de uma descrição fenomenológica da existência humana. A vida mergulhada na plenitude do momento, voltada para capturar o gozo da existência, uma situação na qual você não aspira a nada, não deseja nada. Este tipo de existência, marcada pela exterioridade, a mudança e o imediatismo, leva a experiência do desespero. Para fugir da prisão de seus desejos, o homem precisa dar um salto, que o leva ao estágio ético.
O mundo do homem ético é dominado por uma ordem universal, que o faz sentir perdido numa multidão, anônima, sem autonomia e percebendo-se condenado a solidão consigo mesmo. Vindo reconhecer sua condição de pecador e a necessidade de arrependimento, não mais podendo se referenciar pelas leis universais, se vê em desespero e angústia.
Conclui-se, que para kierkegaard, a angústia tem sua origem na percepção do limite, que marca a vida humana. O homem seria uma síntese de infinito e finito, de temporal e de eterno, de liberdade e de necessidade, em suma uma síntese, vindo o eu a não existir ainda.
Podemos concluir através dessas reflexões, que devemos aceitar a angústia como componente inevitável do funcionamento psíquico. A angústia se põe, neste caso, como necessidade para o homem moderno o estabelecimento de uma vida no limite como ponto de partida para criação e não castração.

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